segunda-feira, 6 de junho de 2016

E (quase) Tudo a Luz Levou

7:00
Há 15 meses que 2ª feira é dia de pesagem.
Por todas as razões e mais algumas eu tinha indicação de me pesar semanalmente. Ficou o hábito.
Antes da cirurgia bariátrica, imediatamente antes, eu cheguei aos 128 Kg.
Em maio de 2014 tinha 124, fui á consulta e marquei a cirurgia. Em julho fui aos Estados Unidos e em agosto a Maiorca. E despedi-me da comida. Muitos obesos antes desta cirurgia fazem este disparate e eu também fiz. E nas vésperas de ser operada tinha chegado aos 128. Também para um obeso mórbido o que são 4, 5 ou mesmo 10 Kg de diferença? Nada. Ninguém dá por isso e nós tentamos também não dar. Na verdade, chega a um ponto que nos deixamos de pesar. Não queremos saber. Por exemplo, na minha cabeça e tanto quanto sei não me pesara depois dos 115 Kg.
Eu escrevi que me despedi da comida mas clarifico: eu não comia grandes quantidades. Comia era muita porcaria (sim, eu sei que algumas pessoas ficam admiradas com o termo). Porcaria do ponto de vista nutritivo. O pior eram os doces, jejuns até às 4 da tarde, algum aperitivo. Bebidas gasosas (continuo a adorar Coca-Cola mas só pensar em bebê-la me agonia) já tinha deixado de consumir há muito tempo. Mas nesse Verão de 2014 bebi, fui à Chessecake Factory, deliciei-me com cupcakes. Isto nos States. Também abusava de aperitivos, principalmente os Cheese Rolls, amendoins, cajus. Tudo com poucas calorias!!!
O certo é que depois da alta a 27 de fevereiro de 2015 passei a pesar-me semanalmente à 2ª feira. Em termos de peso, o meu objetivo era chegar aos 75 Kg. Com tudo o que sucedeu a queda foi livre. Depois a diminuição de peso parou um pouco porque a alimentação parentérica tem mais calorias que a normal, e depois da alta veio de novo em queda livre. Com o problema de litíase biliar diagnosticada depois de várias crises que me fizeram desmaiar pensando-se que era síndrome de Dumping mas afinal é cólica biliar (li que é a 2ª dor mais intensa, de facto é brutal), faço uma alimentação hipolipídica. Não como nada que tenha gordura, nem sequer um ovo, de que tenho imensas saudades. Nem sequer queijo fresco. Além de intolerante à lactose, bebendo leite 0% de lactose e 0%de gordura sinto-me mal (alguma coisa deve ter se não era água). De modo que tenho de puxar imenso pela criatividade para comer e cheguei aos 60 Kg. Aí disse á nutricionista e ela concordou que não quero perder mais peso. Faço suplemento de proteínas e se viesse abaixo dos 60 era para fazer outros. Mas parou. Desde há meses que oscila entre os 61 (se vem abaixo disso fico aflita) e os 63 (se sobe, também fico aflita). Cerca de 30% das pessoas submetidas a cirurgia bariátrica volta a engordar. Isso horroriza-me. Depois de tudo era a estupidez total. Mas penso que não porque uma coisa é uma luta inglória contra dezenas de quilos que por mais que se faça não se veem resultados, se desanima, se retomam os hábitos alimentares e se volta a ganhar todo o peso perdido e mais algum. Outra é atingido um peso como o que tenho, se por acaso subir além dos 65, travar a fundo. É o que eu penso, mas tenho medo de voltar a engordar. Parece que todos os bariátricos têm. Ou quase todos.
Hoje tenho 61.800. Está dentro do que quero. Tenho comido mais pão. Eu que não apreciava pão. Como com banana, a fruta que melhor tolero. É um dos meus snacks. Por indicação da nutricionista necessito de hidratos de carbono às refeições. As quantidades é que são mínimas porque não há onde arrumar. Nunca me senti mal por comer demais, o que costuma suceder a alguns gastrectomizados. Entalar-me com a comida sim, porque se não é bem mastigada não passa o Y de Roux, a técnica usada na gastrectomia total e no bypass. E é horrível porque nem se consegue respirar. Tem de se vomitar e já tive duas ou três crises que duraram horas. Geralmente resolvem-se vomitando o que ainda é possível de vomitar. Porque ultrapassando aquela primeira parte do duodeno já não se consegue. Pelo menos eu não consigo.
Há muitos alimentos que os bariátricos deixam de tolerar. Eu fui tolerando quase todos. O que me impede é a vesícula e não o facto de não ter estômago. Carne mais rija é que não vai mesmo. Bacalhau tolero, mas tem de ser pouco o que não cobre as proteínas de que necessito e então não privilegio. Arroz também já vou tolerando pois é dos alimentos mais difíceis de tolerar. Isto porque preciso sentir bem a comida na boca para a mastigar bem. O arroz escapa-se, chega ao duodeno faz tampão e uma pessoa fica entalada. Já me entalei com tudo e mais alguma coisa mas com o tempo a primeira parte do duodeno cria uma bolsinha e deixa de suceder tanto.
O maior entalanço que tive foi nos primeiros dias em casa ao tomar o Centrum. Aquilo é uma bala de canhão. Parecia-me que morria. Hoje trituro-a.
Também bife de vaca já me fez um entalanço grande, de horas. E muito mais se não mastigar muito bem.
A primeira cólica biliar foi com cerejas. A fruta que mais gosto e que agora, até fazer colicistectomia e recuperar, devo ficar com uma cerejinha só e olha lá. Depois já fiz com melão e tudo o mais que se possa imaginar. A vesícula é muito caprichosa. Depois de se descobrir o que é e de fazer dieta adequada, tive poucas crises. Mas outras dores e indisposições andam por aqui. Ainda ontem bebi água e começou uma forte dor abdominal. Como há suspeita de brida e de já ter feito uma semi oclusão intestinal, fico apreensiva, sei que posso ter de ser operada de urgência e fico quieta, à espera de ver a evolução. As bridas são aderências intestinais e com tanto que os meus foram mexidos, é muito natural (o admirar seria que não tivesse). No hospital de Lisboa (recuso dizer o nome) fui operada 4 vezes. Mais a gastrectomia total aqui. Uma única cirurgia abdominal tende a fazer estas situações- artigos há que apontam para a possibilidade de mais de 99% numa cirurgia abdominal. No meu caso é só multiplicar por “n”.
Também hoje saí cedo da cama. Muito cedo. Tenho um dia muito cheio incluindo ir ao Banco. O hospital privado levou-me mais de 25 mil euros. Ou seja, as minhas economias e o que eu não tinha. Um dia falarei das repercussões económicas de toda esta aventura de um hospital privado. Se não fosse tudo o resto só por isso já desaconselhava. Porque se as coisas dão para o torto, as contas podem levar-nos para onde nunca imaginávamos. Vai o couro e o cabelo. No meu caso, foi literal. E ainda mais. Um dia falarei também desta parte. Se eu puder ajudar as pessoas a tratarem-se bem em hospitais públicos e a não pagarem para serem maltratadas, já haverá algum sentido no que sucedeu. Porque o atendimento em nada é melhor, bem pelo contrário. E paga-se a diária ao preço de um hotel de 5 estrelas, além de que, a cama da unidade de cuidados intensivos e tudo o que ali sucede não é comparticipado. Além de que, desconfio com bases, muitas opções de tratamento baseiam-se nos ganhos monetários e não no que a ciência indica. Num exemplo, e noutro hospital privado, esse no Porto. Fui a uma consulta de ginecologia porque o meu marido estava em tratamento e tinha passado a altura de fazer o meu check up anual. A médica pediu-me o normal numa consulta de rotina de ginecologia, TAC abdominal e mais não sei o quê. Fiz o que era de ginecologia e mais nada. Conheço pessoas que relatam situações idênticas.
Mas aspetos básicos necessários, isso falhou – como manter a minha medicação de rotina ou verificar o que se passava com a minha vitamina B6 que estava baixa já antes de ser operada. Estes lapsos podem estar na base da neuropatia periférica que me atormenta diariamente, em conjugação coma falta de exercícios pois estava acamada e vi uma fisioterapeuta uma vez.
19:30
Foi um dia de corre corre mas de muito agrado. Sempre que estou com os meus estudantes, principalmente em ensino clínico, ainda que muito cansada, o ânimo é logo outro.
De modo que estou com a língua de fora, colocando o máximo possível em dia, qui a pouco tenho que me deitar para ainda ler pois não durmo sem ler pelo menos uma página.
Amanhã é um dia com várias frentes, daqueles em que tenho que ir comendo pelo caminho, o que se torna mais cansativo.

Mas o bom é que é outro dia.

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